sábado, 2 de janeiro de 2010

Pensar no futuro

Caros leitores, eu fui a uma festa familiar de início de ano e lá conversei com várias pessoas de minha família. Os assuntos foram dos mais variados, desde alguns comentários a respeito da funcionalidade do Linux, do Windows e Macintosh até mesmo a qualidade do cinema nacional, passando pelas formalidades do processo de obtenção de CNH (com destaque para o exame do psicotécnico) e pela tragédia de Angra dos Reis. Entretanto, um assunto me deixou mais do que inquieto, o futuro, mais especificamente o INSS.
Esses dias atrás foi dado um aumento de 6,14% para os aposentados que ganham mais de um salário mínimo, um ganho real de 2,5%. Fonte. O rombo da previdência, em 2009 foi estimado como sendo de R$ 43 bilhões. Fonte. E não existe nem perspectiva de que esse assunto entrará em pauta nas eleições desse ano, por um motivo muito simples, falar disso não agrada o eleitorado. Entretanto o que realmente me incomoda é a perspectiva de eu não conseguir me aposentar.
Saiba, caro leitor, que a expectativa de vida ao nascer do brasileiro hoje é de 72,9 anos (Fonte: IBGE) e que os brasileiros podem começar a se aposentar por volta dos 50 anos. Considere que esse trabalhador contribuiu com o equivalente a cerca de 100 reais ao mês durante uns 30 anos. E receberá até sua morte (que acontecerá daí uns 20 anos) um salário mínimo mensal que hoje está no valor de 515 reais.
Ainda se fosse apenas isso, o problema ainda não seria tão grave. É direito do trabalhador, assegurado pela constituição federal no artigo sétimo, inciso XXIV, a aposentadoria, independente do cidadão ter ou não contribuido para o INSS. Sendo assim, trabalhadores informais e também os trabalhadores rurais que nunca contribuiram para a previdência social têm direito a se aposentar, e o piso é um salário mínimo.
Com tudo isso, temos que o rombo atualmente é de 43 bilhões de reais, e tal desajuste nas contas públicas é resolvido de uma maneira bem interessante: desvia-se dinheiro de outras áreas do governo para sanar o problema. Até agora a bomba ainda não estourou, mas logo ela estoura.

Observe que nesta Pirâmide etária do ano de 2005, já existe um significativo afunilamento nas bases e também que a população aposentada se concentra nas faixas superiores a 50 anos e que a população contribuinte do INSS se concentra entre 20 e 50 anos.
Em 2015, serão aposentados no Brasil as pessoas que em 2005 tinham 40 anos ou mais, e serão contribuintes os que em 2005 tinham entre 10 e 40 anos. Observe que o número de aposentados aumenta e o de contribuintes diminui. (**Não se levou em conta a mortalidade neste exemplo, já que a intenção é apenas ilustrativa.)
Se o cenário para 2015 está ruim, imagine para 2025 ou mais adiante. O rombo no INSS certamente aumentará, e provavelmente será sanado com imposto de outras áreas,  o que implica em mais impostos no futuro (e carga tributária no Brasil já é alta).  Outra possibilidade de ajuste do rombo é abrir mão de serviços como saúde, educação e segurança (já precários no Brasil) para manter a previdência social. Ou ainda pior, o governo pode vir a perder a capacidade de investimento, o que levaria a economia brasileira a uma situação de estagnação, um quadro muito mais preocupante, já que estagnação econômica é sinônimo de caos.
Caro leitor, pensar nisso é uma visão do inferno de Dante, pintada com cores ainda mais reais e com data para acontecer, um futuro de 20 ou 30 anos a partir de agora. Então meu conselho é pensar bem nas eleições e nos projetos que nos serão apresentados. E se não houver projetos bons, estará na hora de você se interessar por essa coisa chamada política já que ela tem profundas implicações na sua vida.

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