Imagine, leitor, que na sociedade existem pessoas e pessoas, umas diferentes das outras, sendo cada indivíduo com suas manias e esquisitices. O objetivo é daqui por diante entrevistar algumas figuras ilustres do folclore. Para melhorar o meu entendimento de mundo, eu realizei todas as entrevistas justamente no dia da verdade (clique no link e irá para uma postagem mais antiga).
Deixo claro, caro leitor, que os nomes dos entrevistados foram trocados para preservar a identidade daqueles que concordaram em falar ao "Paralaxe Hiperbólica". A primeira entrevistada é Maria, uma beata que mora numa pequena cidade do interior de São Paulo.
A matéria foi feita após eu ter rezado junto com ela o santo rosário e depois de um bolo de fubá com um copo de leite morno.
Pantera: Já podemos iniciar a matéria para o blog?
Maria: Já podemos sim, graças à Virgem da Imaculada Conceição.
Pantera: Quantos anos você tem e há quanto tempo você pratica a religião católica com mais fervor?
Maria: Eu tenho 53 anos e comecei a me interessar mais por missa depois que o meu finado marido morreu, 10 anos atrás.
Pantera: A sua convivência com ele era boa?
Maria: Não. Ele era muito religioso, não gostava de fazer nada que, segundo ele, fosse coisa do demônio.
Pantera: Por exemplo?
Maria: Sexo. Ele dizia que era apenas para a reprodução. Depois que o médico confirmou que meu útero era murcho ele nunca mais tocou em mim com mais carinho. Mas mesmo quando ele ainda tocava em mim, o sexo não era bom. Ele mal se despia e já estava todo melado... Oh, Deus, por que estou falando essas coisas?
Pantera: Dona Maria, hoje é o dia da verdade, ninguém consegue mentir, não percebeu que muitos casais estão brigando aí na cidade?
Maria: Eu pensei que fosse só um reflexo da novela de ontem... Bem, não vou dar mais essa entrevista, o senhor é um rapaz muito do atrevido...
Pantera: Mas a senhora prometeu pelas chagas do senhor que iria conversar comigo...
Maria: Está bem, mas olhe lá o que pergunta.
Pantera: Como foi a morte de seu marido?
Maria: Bem, o desgraçado era um bêbado. Não havia dia em que ele não chegasse pelo menos com um cheiro de pinga. Aí um dia ele pegou o Fusca 68 que tínhamos e saiu depois de ter bebido. Ele achou que a ponte em construção já estava pronta e aí o Fusca caiu no rio, onde ele morreu afogado.
Pantera: Na autópsia não perceberam que ele estava bêbado?
Maria: Até perceberam, mas como o legista é meu sobrinho, a causa mortis foi afogamento precedido por um ataque fulminante do coração, que o fez sair da estrada e entrar em cima da ponte...
Pantera: Após a morte de seu marido, como a senhora se sentiu?
Maria: Feliz. Durante o velório eu fingi desmaios para ser retirada de lá para que sozinha eu pudesse expressar toda a minha alegria. Mas durante a missa de sétimo dia eu consegui simular uma tristezinha. Sabe, eu engano muito bem quando não é esse tal dia da verdade.
Pantera: A senhora continuou sozinha depois de viúva?
Maria: Qual... Viúva sim, sozinha nunca. Logo depois do meu marido morrer morreu a esposa do Zé da farmácia, e ele ainda estava muito bem apessoado naquela época. Inclusive nunca teve tantas viúvas num velório que nem naquele. E eu era uma delas. Fui com um vestido azul bonito e com um perfuminho bom que meu finado marido dera uma vez. Eu dei meus pêsames pro Zé, ele me deu depois um colar de pérolas.
Pantera: A senhora teve um caso?
Maria: Se eu não fosse estéril teria até mesmo um filho...
Pantera: Nossos leitores não precisam saber dos detalhes. Mas por que a senhora ia às missas então?
Maria: Para calar a boca das fofoqueiras aí da esquina. São duas gordas que ficaram para titia. Eu comecei pra despistar. Assim eu pareceria uma viúva beata como todas as outras. A diferença maior é que nas missas de terça feira eu levo as palavras cruzadas.
Pantera: O padre não percebe o passatempo?
Maria: O padre já está velho e meio cego. É só sentar no lado mais escuro da igreja que ninguém percebe.
Pantera: A senhora também participa da comunidade como festeira (membro de uma comissão que organiza as festas de santo) de São Bosco. A senhora gosta do trabalho?
Maria: Isso sim, eu gosto. As crianças da escola de profissões são um motivo para minha vida. Adoro ficar lá. E adoro uma festa também. No último feriado até fizemos um bailinho para a terceira idade.
Pantera: O Zé da farmácia também é um motivo para sua vida?
Maria: Não, a coisa com ele são apenas os prazeres da carne, isso quando dá.
Pantera: Interessante. A senhora também gosta dos retiros, como o de carnaval?
Maria: Nem pensar. São chatos. Um bando de beatos todos juntos falando das graças da misericórdia do pai ninguém merece.
Pantera: Mas a senhora foi no retiro de carnaval este ano...
Maria: Eu não foi no retiro, confesso. Eu fui pro Guarujá com o Zé. Você deveria ir também, tem muitas moças e moços da sua idade, todos se divertindo na praia. Olhe bem, eu até saí com um mocinho. O Zé queria ficar dormindo só, au fui dar uma caminhada, e aí eu encontrei o Fernando...
Pantera: É melhor não dar os detalhes, os leitores se escandalizariam.
Maria: Ah, isso não iria acontecer, não. As pessoas fingem que reprovam mas no fundo queriam ter feito igual.
Pantera: A senhora se refere à alguém dessa cidade?
Maria: Ah, sim. A Márcia, a Eduarda, e a Josefa fizeram coisas bem piores ainda casadas e continuam reprovando todo mundo que resolver assumir.
Pantera: Muito obrigado pela entrevista.
Maria: Ah, não há de que, mas eu gostaria que você trocasse meu nome, assim eu posso continuar minha vida sem os mexiricos das gordas da esquina.
Pantera: Assim será feito.
Ao final da entrevista ela me deu um tercinho de N.S. Desatadora dos Nós, e mandou que eu rezasse para o espírito santo a fim de ter discernimento com essas modernidadesm tipo aquele blog. Agradeci a gentileza e fui embora.
Fantástico Pantera!!
ResponderExcluirRi muito aqui na frente do computador...
rsrsrs
Hahahahaha Como se sentiu após a morte? FELIZ! hahaha
ResponderExcluirque religião e que seca, coitada..
q véia louca ashuashuasuhas
ResponderExcluircasquei o bico na hora que ela falou das relações sexuais com o falecido marido. kk
Esse Brasilzão tem cada figura...
Voltei das férias desse blog mas creio que retornarei a mais um recesso... Esculhambação total não apenas do país como também de seu povo.
ResponderExcluirPolicarpo Quaresma só não lhe daria um tiro porque não é da índole dele. Mas Castelo Branco não economizaria um grama de chumbo com essa sua aversão nacional...
hauhauahuaha
BRASIL !!!
Soh quero deixar claro que passei o carnaval em varginha.
ResponderExcluirE tenho dito.
PS: Eu ri, pantera! Abraço!
É né... ainda bem que o Zé da farmacia estava por lá e que pelo jeito tbm não era um católico fervoroso. Mas tá certo, eu faria o mesmo.
ResponderExcluirAi que meigo!!!! Adorei dona Maria!! que figura... rss
ResponderExcluir"Viuva sim, sozinha nunca", muito bom...
belo blog!!!
kkkk' Essa velhiinha heiim ! Nossa, esse post foi ótiimo ! Está de parabéns !
ResponderExcluirNossa, que fogo tem a Dona Maria né?
ResponderExcluire ainda conseguiu um colar de perolas!! Quero servir a Deus também! HAOSHAOSHAO.
Falando sério agora, eu adorei o post antigo, do dia da mentira. Me fez lembrar uma das únicas comédias que realmente me fizeram rir na vida "O Mentiroso" com o Jim Carey. haha
Enfim, ri muito.
:*