sábado, 19 de setembro de 2009

Entrevistas Estranhas (Parte 02)

Devido ao sucesso da última entrevista aqui no "Paralaxe Hiperbólica", outras vão aparecer. É claro, caro leitor, que desta vez eu não consegui fazer a entrevista no dia da verdade, mas quando eu disse ao entrevistado que eu trocaria os nomes para preservar a identidade de todas as pessoas envolvidas, aí ele aceitou falar tudo o que lhe vinha à cabeça. A entrevista a seguir foi feita algumas horas atrás, mas mesmo assim, é uma ótima entrevista.
Pantera: O senhor faria o favor de se apresentar aos leitores, Dr. João?
João: Ah, eu nem fiz doutorado para ser doutor, mas mesmo assim eu gosto do título. Meu nome é João (lembre-se que os nomes foram trocados), sou médico e tenho 42 anos.
Pantera: Qual a sua especialidade, João?
João: Atualmente eu sou cirurgião plástico, mas já tive outra especialidade.
Pantera: E qual era?
João: Eu era oncologista, mas eu não me acertei muito bem na área.
Pantera: O que acontecia para você não se sentir bem?
João: Eu era muito sincero. Sabe, eu dizia tudo o que aconteceria aos pacientes quando eles descobriam o câncer. Um caso legal foi quando eu contei para um senhor que ele estava com câncer terminal.
Pantera: Por que legal?
João: É que eu estava com um crise de riso muito forte, depois de ouvir uma piada ótima que outro médico da geriatria me contou. Aí eu acabei contando a notícia rindo. A coisa é que o paciente nem morreu de câncer.
Pantera: Aconteceu um milagre? Ele se curou?
João: Não, ele teve um ataque cardíaco fulminante e morreu no consultório mesmo.
Pantera: Hammm...
João: Não precisa se preocupar, ele só teria mais dois meses de vida mesmo...hahahah....
Pantera: Foi esse caso então que o levou a deixar a oncologia e entrar na cirurgia plástica?
João: Não. A coisa é que teve uma época, quando começaram a falar mais do câncer de mama na novela em que eu tinha de tratar muitos destes casos graves. Eu decidi dali para frente que eu colocaria os peitos e não os arrancaria.
Pantera: E a cirurgia plástica é muito diferente da oncologia?
João: Não. Numa você corta para tirar uma laranja de dentro do paciente. Na outra você corta par por umas laranjas na paciente.
Pantera: Sei. E quem procura o senhor?
João: A maioria dos casos são pessoas que querem mudar o visual, parecerem mais bonitas, embora haja aquelas com as quais eu realmente me surpreenda.
Pantera: Por quê?
João: Porque eu consigo realizar o milagre de deixá-las bonitas. Mas ainda a respeito dos pacientes, sempre aparece um queimado ou outro para reconstruir a cara. Ou algumas pessoas precisando tirar as pelancas.
Pantera: E dá para recuperar os queimados?
João: Ah, dá para deixar menos feio, fazer a boca voltar a abrir, recuperar o movimento dos olhos e reconstruir parte da orelha. Mas mesmo assim, ainda fica parecendo um boxeador depois de levar uma surra, se bem que o boxeador ainda tem pele...
Pantera: As mulheres que procuram o senhor querem fazer o quê?
João: Elas gostam mesmo é de por peito, bunda e ficar com uma cinturinha fina. É claro que não dá para transformar uma "couch potato" em uma top model. Mas elas pagam bem. Tem algumas mulheres que querem parecer mais jovens puxando a pele com o "lifting" mas eu não acho que dá certo.
Pantera: A técnica não é boa?
João: Não, é que mesmo que a cara pareça nova, as coisas a respeito do que elas conversam não são. Aí nem a melhor das cirurgias pode esconder o que essas pessoas realmente são, umas peças de "freak show".
Pantera: Doutor, é verdade que os cirurgiões plásticos ficam procurando defeitos nas pessoas para depois corrigí-los?
João: É pura especulação de quem não gosta de nós... Mas sabe que você até poderia melhorar se nós diminuíssemos seu nariz...
Pantera: Ah, obrigado pela atenção. Você sabia que em alguns países a cirurgia plástica com fins estéticos já foi proibida por se tratar de na verdade de um instrumento para a homogeneização da beleza pela cultura capitalista de consumo?
João: Ah, isso eu sabia sim. Na China acontecia coisa parecida, talvez por isso lá só tenha gente com cara de chinês... É por isso que eu tenho um programa com fins sociais. Eu faço cirurgia plástica para as pessoas feias e sem dinheiro.
Pantera: Muito legal essa sua iniciativa. Como é que você seleciona os candidatos?
João: As primeiras pessoas são as mulheres que os meus antigos colegas da oncologia trataram. Aí eu coloco peito nelas, dou uma levantada no visual e deixo elas uns mulherões. Depois eu vou em asilos para pegar os velhinhos e tirar a pelanquinha do olho, para eles poderem enxergar melhor. Por fim se eu encontrar alguém que eu ache que precisa de cirurgia convido para o programa.
Pantera: E por que o senhor começou com isso?
João: No início eu não suportava ver gente feia. Mas depois eu percebi que eu poderia me tornar vereador de minha cidade.
Pantera: Sei. Muito obrigado pela entrevista.
João: Eu que agradeço. E, aliás, tome meu cartão, tenho certeza que eu posso concertar as marcas do terrível acidente que você sofreu.
Pantera: Eu nunca sofri nenhum acidente.
João: Então é genético mesmo, mas tem solução.
Eu agradeci a preocupação, despedi-me do doutor e fui embora. Confesso que quando cheguei em casa eu tive vontade de telefonar, mas me contive.

Um comentário:

  1. hihi, gostei da entrevista.

    eu pessoalmente ñ gosto d qm fica indo no cirurgião plástico pra mudar a aparência. existem umas coisas mto estranhas por ai q o pessoal usa pra fica mais bonito. Eu nunca vou entender pq alguém quer colocar botox nos lábios...

    ah, bem, voltando ao assunto, eu acho q proibir a cirurgia plástica pra fins estéticos é mto exagero, as pessoas é q tm q ter um pouco d noção pra ñ sair tirando costela e pondo botox e silicone por ai.

    E tbm, se vc sofrer um acidente e ter o nariz destruído e dps quiser reconstruí-lo, vc meio q tah fazendo a cirurgia pra fins estéticos

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