Certamente, caro leitor, você nunca ouviu essa palavra 'intrafobia', mas saiba que isso não quer dizer que você seja um inculto (mas se soubesse também não seria um intelectual). Trata-se de uma palavra nova que eu inventei pouco antes de começar a escrever esta postagem. 'Intra' significa 'dentro'; 'fobia','medo'. A coisa que é nós, brasileiros, não somos um povo xenofóbico, mas sim um povo intrafóbico. Nós não gostamos daquilo que tem no Brasil. O que vem de fora é, para a maioria absoluta dos brasileiros, melhor do que existe aqui.
- A televisão brasileira é ruim. Bons são os canais americanos
- Os políticos do Brasil são corruptos. Na Europa não existe corrupção.
- O produto nacional é pior que tem. O bom é o importado.
- Quem estuda apenas no Brasil é um profissional menos qualificado do que aquele que estudou no exterior.
Todos esses são pensamentos típicos de pessoas intrafóbicas. Se você se enquadrou em qualquer um desses pensamentos, reveja suas atitudes nos parágrafos que se seguem.
A televisão brasileira é a melhor que existe no mundo. Posso dizer isso sem medo de erro, pois é a mais pura verdade. Quem já assistiu, um pedaço mínimo da programação de um canal extrangeiro (e não das versões brasileiras que circulam na tv a cabo) sabe do que eu estou falando. A imagem é ruim, os temas são chatos. Os apresentadores são uns picolés de chuchu. Se alguém argumentar que o 'David Letterman' é bom, eu vou ter de concordar. Mas o 'Jô Soares' também é bom, ao mesmo nível ou melhor. Se alguém disser que a 'Oprah' é boa entrevistadora, terei de concordar, mas a 'Ana Maria Braga' e 'Hebe' fazem o mesmo e muito mais.
Uma vez eu assisti um jogo de vôlei com imagens geradas por uma televisão francesa. Juro que não dava para ver a bola, ela não era filmada. Talvez o câmera-men gostasse mais de filmar a rede com os jogadores e seu porte atlético do que o jogo em si. Mas o mais provável é que ele não tivesse experiência alguma.
Também tem quem diga que os canais da Warner, do AXN, da Universal, e do Discovery sejam melhores que os da nossa televisão. A resposta é uma só: no Brasil não é produzido o conteúdo que esses canais produzem por que não há quem pague por tal produção. Sim, leitor, televisão é um negócio: se não há audiência para um programa, ele não é produzido. E os brasileiros não assistem documentários e séries de televisão do mesmo modo que os americanos. E se não há quem assista, não há quem produza.
A política: Na França está estourando um escândalo por causa que o presidente, Nicolas Sarkozy, está tentado empregar o filho na máquina pública. Nepotismo não é apenas uma característica do Brasil. Sem falar do colega de Sarkozy, Silvio Berlusconi, primeiro ministro da Itália. Silvio está acusado de promover orgias em residências oficiais. É algo como se o presidente Lula chamasse todas as mulheres frutas e alguma ou outra coelhinha da Playboy na Granja do Torto e fizesse todos os seus 24 ministros ficarem com o membro reto em vez de torto. É escândalo do grosso o que tem lá fora. Corrupção não é exclusividade do Brasil.
O produto nacional também tem uma qualidade incrível. A seda brasileira é considerada, por estilistas de luxo, a melhor que existe (embora a atividade esteja morrendo no Brasil, devido a falta de apoio do governo). Nós fomos o primeiro país a dominar a tecnologia do álcool e fazer um motor flex. Se você pensar em aviões de médio porte, não há nada como os aviões da Embraer, uma empresa brasileira. Tá certo que sempre vai ter que ache que qualquer coisa mal feita pelos extrangeiros é melhor do que o produto nacional. Isso precisa mudar.
Por fim, o mais terrível de todos. A questão de formação profissional. Tem muita gente que acha que estudar fora do país faz de alguém mais qualificado que uma pessoa que apenas estudou no Brasil. Isso está errado. Tem muito profissional que tem fluência em inglês, mas se precisa escrever um texto em sua própria língua, não consegue. Sai uma coisa que ninguém entende. Aí é necessário usar o telefone para que o chefe pergunte o que que o cara queria dizer naquele relatório ou naquele plano de serviço. De nada adiantou uma pós graduação no exterior se o cara não conseguiu aplicar esse conhecimento no Brasil. Talvez seja um resquício da cultura que existiu durante o tempo colonial, do império e república velha, quando os pais mandavam seus filhor estudar na Europa. Deve ter ficado alguma mitificação a respeito. Mas quem se importa? Nós só temos no Brasil duas das 200 melhores universidades do mundo, a USP e a UniCamp, mas seus diplomas não são tão glamurosos quanto uma graduação numa UniEsquina norteamericana.
Leitor, não seja intrafóbico, nem xenofóbico. Existem coisas boas em todos os lugares do mundo. A coisa é que nós precisamos deixar de ver o que tem no Brasil como sendo ruim. Yes, nós temos mais coisa de bom além de bunda, cachaça e futebol.